O primeiro passeio foi uma trilha cheia de sobe-desce, pedras e mais pedras e muita natureza ao redor. Eu que só pedalo na cidade, não conseguia esconder o meu medo. Medo do mato, dos bichos, de sofrer, de atrapalhar os outros, e o pior dos medos: pedalar no escuro! Enfim, eu sou uma pessoa medrosa e mimada, assumo. Nada que uma boa dose de barro, lama e pedra não resolva...
Todo mundo com seu lanchinho, sua camel bak, lanterna e lá vamos nós...
Antes de sair, um pó de guaraná pra garantir o pique pra subir e descer ladeiras. O bicho é ruim e nem sei se faz realmente efeito. Mas o psicológico agradece!
Eu nunca tinha feito trilha, mas me garantiram que a corrida me dava resistência para sustentar o pedal e eu ia tirar de letra. No começo eu estava acreditando e até posava feliz para as fotos! "Parece que não é tão difíci"- eu me iludia.
No começo da trilha nos deparamos com este aviso em uma porteira. Aí vi que o negócio era sério mesmo... pensei em voltar pra casa, mas e se as câmeras de segurança flagrassem meu ato de covardia!?! Ia pegar mal, né? Fecha a porteira e continua!! :P
O caminho das pedras. Se já é difícil descer e subir tanto morro, imagina agora carregando uma bicicleta. É a hora de malhar os bracinhos!! Ui !!
"Tá de brincadeira que agora que fizemos 1/3 da trilha, né?"
Dois pneus furados, quase 5 horas da tarde e eu começo a ficar "um pouco"preocupada! Olha o desespero aí, genteeee!!!!
Camâras de pneus trocadas. Alguém me explica que toda trilla tem imprevistos e me garantem que vamos chegar antes de escurecer. Eu acredito e até volto a sorrir para as fotos! Inocência de iniciante!!!
Tudo bem toda trilha ter imprevistos. Mas, precisava mesmo CHOVER?
Escureceu e a chuva não passou. A sorte foi termos encontrado uma casinha no meio do nada com gente que não tem medo desses loucos que usam roupa brilhante e pedalam a noite no meio do mato! Brincadeiras à parte, a gentileza e a hospitalidade do povo do interior realmente me comove. Não só ajudar estranhos como éramos, mas nos convidar pra descansar em sua sala e ainda se apiedar com o nosso estado e nos preparar uma vitamina para termos força pra continuar o caminho. Ainda assim, ao nos despedirmos, insistirem para que pernoitássemos lá. E nós sabíamos que era de coração. É de uma pureza que não esqueço.
Quando a chuva diminuiu, partimos na escuridão para mais algumas horas de pedalada. Só a luz das lanternas das bikes iluminavam o caminho. Era eu contra o meu medo de pedalar no escuro. No céu, nuvem e chuva. O silêncio e o som da mata, o silêncio e o som dentro de cada um de nós. A medida que reconhecíamos o final da trilha, o barulho de dentro crescia; o sofrimento do trajeto dava lugar ao prazer da superação e automaticamente a mente eufórica pedia por mais, sem se preocupar com o corpo que já se esgotava. Um barulhinho disse "descansa porque amanhã tem mais"e fez-se o silêncio da plenitude.
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