Não lembro a última vez que a gente tinha ido correr naquela trilha. Fazia alguns meses, não chegava a um ano. Não era tanto tempo assim para tantas mudanças. Árvores que margeavam o caminho e o tornavam mais agradável e sombreado agora eram uma clareira preta e fumacenta. Uma das subidas foi pavimentada e perdeu um pouco da sua dificuldade. Em menos de 3km, encontramos dois bichos mortos: um passarinho carbonizado e uma cobra (parecia uma jibóia) com um buraco na cabeça.
Estávamos a 17km de Teresina, ao lado de um condomínio que se propõe a ser meio casa, meio sítio, uma coisa assim de "morar próximo à cidade, mas em meio a natureza". Mas, que natureza? Fiquei espantada com a velocidade e a ferocidade que avançamos a dita urbanização sobre as nossas áreas verdes e seus habitantes naturais. É típico dos nossos condomínios suburbanos chiques: arrancam todas as árvores nativas, plantam algumas cercas vivas, umas palmeirinhas e vendem a natureza ideal de muitos: asséptica, falsa e controlada.
Dentro da cidade a coisa não melhora. Afinal, se eu tenho que sair de Teresina para encontrar um percurso que não seja pavimentado ou asfaltado e que tenha muitas árvores para amenizar o calor é porque nossos espaços urbanos públicos estão cada vez menos arborizados, mais pavimentados e consequentemente quentes. É inevitável lembrar de Buenos Aires, que conheci recentemente, com suas praças e parques urbanos. Mais do que o tango e os alfajores, para mim a melhor coisa desta cidade foi a sua área verde. Morria de inveja toda vez que passava por um corredor fazendo seu treino num piso de terra batida, em meio a tantas árvores enormes e frondosas, e o melhor: bem pertinho de uma estação de metrô ou uma parada de ônibus.
O que me deixa mais triste não é saber que estamos no caminho errado, mas a velocidade com o qual o percorremos. Medo dessa linha de chegada.
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