Hoje li um texto na Runner's World que me fez pensar bastante sobre essa associação que muitos fazem entre corrida e terapia. É comum vermos corredores e entusiastas da corrida compartilhando em redes sociais fotos motivadoras com dizeres "Corrida é a minha terapia", "Correr é mais barato do que um psicólogo" ou algo do tipo. Eu entendo que as pessoas tem boa intenção e não falam isso por mal. Talvez elas queiram apenas ressaltar que a corrida vai além do bem estar físico e traz benefícios mentais também. É inegável que quando corremos aliviamos o stress do dia a dia, pensamos melhor sobre nossos problemas, temos boas ideias, nossa auto-estima melhora e nos sentimos mais dispostos para as atividades diárias. Para muitos isto é suficiente para garantir um bem estar mental, mas para outros não.
Como bem colocou o autor na Runner's, para algumas pessoas a corrida, por si só, não vai - e nem pode - cicatrizar todas as feridas, mesmo que você tenha o melhor companheiro de corrida do mundo. Sugerir o contrário, mesmo em tom de brincadeira, é leviano e faz um verdadeiro desserviço para os corredores. Além disso, esse tipo de associação entre corrida e terapia banaliza toda uma classe de profissionais. Psiquiatras e psicólogos não são apenas ouvintes pagos. Eles são profissionais que são capacitados para diagnosticar, prevenir e tratar doenças mentais, distúrbios emocionais e de personalidade.
Propagar que a corrida pode substituir uma sessão de terapia apenas alimenta a resistência que muitos tem em procurar ajuda profissional por considerarem as doenças mentais menos graves que as doenças do corpo. É reforçar o preconceito de que alguém "fica deprimida porque quer", "quem precisa de psicólogo é louco" ou "ansiedade é coisa de quem não tem o que fazer". É perfeitamente aceitável que em algum momento da vida um corredor precise de terapia tanto quanto um sedentário. Não é sinal de fraqueza admitir isso, nem é sinal de que a corrida "não funciona". Provavelmente a corrida será um fator positivo no tratamento, mas ela não o substitui.
Dito tudo isso, achei bem infeliz a nova campanha da Puma, #RUNTHERAPY. A marca divulgou um video com o título "Eu sou a rua, sua melhor terapeuta" cuja descrição é a seguinte: "Cada corredor tem um motivo para correr. Alguns correm pela estética, para superarem a si próprios ou até por indicação médica. Muitos dizem que a corrida é terapêutica e que a rua é a melhor terapeuta. E você, por que corre?". Se um post de um único corredor atinge algumas centenas de pessoas, imaginem quantas pessoas são atingidas por uma campanha da magnitude dessa marca esportiva. Acho no mínimo irresponsável supor que todos terão discernimento para entender as boas intenções da marca.
Enfim, um desserviço para corredores e para a psicologia.
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